Anápolis ganhou destaque na mídia nacional, por conta da aprovação de uma
alteração feita pelos vereadores no texto original da Lei Orgânica Municipal,
suprimindo a frase: “caberá à rede pública de saúde, pelo seu corpo clínico, o
atendimento médico para a prática do aborto nos casos previstos no Código
Penal”. A controvérsia criada pelo assunto envolveu troca de farpas de membros
do Legislativo com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Vários veículos de comunicação deram destaque
ao assunto. O jornal Correio Brasiliense, por exemplo, trouxe a manchete:
“Políticos de Anápolis tiram casos de aborto da legislação municipal”. Os
portais Yahoo, Terra e G1 (Globo) destacaram: “Anápolis, em Goiás, ignora Código
Penal e proíbe aborto legal”; “Vereadores de Anápolis aprovam proibição de
aborto legal”; “Câmara de Anápolis (GO) veta parágrafo da lei que se refere a
aborto”. Várias outras manifestações foram divulgadas em relação ao projeto de
emenda à LOMA de autoria do Vereador Pedro Mariano (PP), que enfrentou grande
assédio de jornalistas, como foi recentemente com o vereador Valmir Jacinto
(PTC), só que numa situação bem diferente, em que o mesmo citou o ex-terrorista
da Bin Laden como “companheiro” e pediu um minuto de silêncio em sua homenagem,
no parlamento. A emenda, aprovada por unanimidade dos votos na sessão
ordinária da segunda-feira, 05, foi bastante comemorada pela Igreja Católica,
especialmente, pelos membros da organização Pró-Vida, coordenada pelo Padre Luiz
Carlos Lodi, que se tornou conhecido nacionalmente por sua luta antiabortista. O
tema tem ganhou repercussão, porque, também, envolve a Ministra da Mulher no
Governo de Dilma Rousseff, Eleonora Menicucci, quem tem feito declarações,
consideradas pela Igreja, como manifestações em prol da liberação da prática do
aborto no País. Na sessão da última quarta-feira, 07, o vereador Sírio Miguel
(PSB) e o Presidente da Casa, vereador Amilton Batista (PTB) falaram, por quase
uma hora, sobre o assunto, com os apartes de vários colegas, justificando que a
emenda à Lei Orgânica “não proíbe e nem aprova a prática do aborto”, apenas o
dispositivo foi retirado do texto da Carta Municipal, pois, de fato, é matéria
constitucional, portanto, não deveria estar na legislação doméstica. “Nós não
estamos discutindo aqui se o vereador A ou B é contra ou a favor do aborto, não
estamos entrando no mérito desse debate”, frisou Sírio Miguel, destacando,
entretanto, que a Câmara é sensível às manifestações populares, “e a comunidade
anapolina é contra o aborto”, enfatizou. Ele ainda criticou, com apoio de
colegas, a carta enviada pela OAB-GO, que, numa das matérias publicadas na
imprensa nacional, foi apontada como uma “notificação”.
O vereador
Amilton Batista, que tem forte ligação com a Igreja Católica, observou que na
legislação brasileira, o aborto é considerado um crime e que nos casos previstos
no Código Penal, quando há risco de morte para a mãe, ou em caso de estupro,
apenas a vítima é isentada de responder pelo ato. Em carta enviada aos
vereadores, o Bispo Diocesano Dom João Wilk salientou a aprovação da emenda: “Há
vários motivos para comemorar. O primeiro é de ordem moral e religiosa. Sendo
Deus autor e senhor da vida, nenhum de nós, nem o Município, pode atribuir a si
a tarefa de matar, seja uma pessoa nascida, seja um nascituro”. O segundo motivo
é de ordem jurídica. Esse parágrafo fere o direito à vida garantido como
cláusula pétrea pela Constituição Federal. Além disso, refere-se a supostos
casos de abortos ‘permitidos’ pelo Código Penal. Vale lembrar que o Código Penal
é código de crimes e não de direitos. O vereador Pedro Mariano destacou que
não se arrependeu e que, se preciso fosse, faria novamente a proposta, por
entender que agiu corretamente. “Não me importo com as críticas, estou em paz
com a minha consciência”, frisou. Como se trata de emenda alterando a Lei
Orgânica, a propositura não depende de sanção do Prefeito Antônio Gomide, sendo
apenas promulgada. No Portal de Leis do Município, o texto da LOMA já aparece
sem o dispositivo que trata do aborto. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário